IPCC lança seu relatório climático e a saída é uma só: zerar emissões líquidas de CO2 na atmosfera

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) a acaba de lançar seu 6º relatório sobre o panorama climático do planeta e é categórico: “É inequívoco que a influência humana aquece a atmosfera, o oceano e a terra”; “o aquecimento causado pelas atividades humanas responde por 1,07°C a mais em relação à média histórica de 1850 a 1900”; e completa: a concentração de CO2 na atmosfera hoje é a maior dos últimos 2 milhões de anos e 2011-2020 foi a década mais quente dos últimos 6500 anos.

Há anos o IPCC é criticado por grande parte dos ambientalistas por ser demasiadamente conservador em suas análises e conclusões. Ainda assim, lastreado nos mais rigorosos modelos climáticos existentes e em análises estatísticas, o relatório apresenta as seguintes conclusões:

  •   a influência humana é muito provavelmente (90% a 95% de probabilidade) o principal motor do recuo global das geleiras desde a década de 1990;
  •   o nível do mar subiu 20 cm entre 1901 e 2018. A taxa de elevação saltou de 1,35 mm  por ano entre 1901 e 1990 para 3,7 mm por ano entre 2006 e 2018. Desde 1900, o nível  do mar subiu mais rápido do que em qualquer outro período nos últimos 3.000 anos;
  •     devido à “inércia climática”, mesmo que as emissões sejam reduzidas a zero, o nível dos oceanos seguirá subindo por séculos ou milênios. Nos próximos 2.000 anos, o nível médio dos oceanos aumentará cerca de 2 a 3m se o aquecimento for limitado a 1,5°C; de 2 a 6m se limitado a 2°C e de 19 a 22m com 5°C de aquecimento;
  •     é praticamente certo (99% a 100% de probabilidade) que as ondas de calor se tornaram mais frequentes e intensas na maioria das regiões terrestres desde 1950;
  •     é provável (66% a 90% de probabilidade) que a ocorrência de ciclones tropicais Categoria 3-5 tenha aumentado nas últimas quatro décadas;
  •   a influência humana provavelmente aumentou a chance de eventos extremos compostos em escala global desde 1950, como ondas de calor ocorrendo simultaneamente às secas extremas.

No que compete à realidade sul-americana, os modelos apontam, com alto grau de confiança (80%), que algumas regiões de latitude média e semiáridas, e a região das monções da América do Sul, terão um aumento maior na temperatura dos dias mais quentes, cerca de 1,5 a 2 vezes a taxa global de aquecimento, e que o início das estações de chuva, não só na América do Sul, mas também na Américas do Norte e África Ocidental, sofrerá atraso.

O relatório destaca ainda, como muito provável, que cada 0,5°C adicional de aquecimento global cause aumentos claramente discerníveis na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos como ondas de calor, chuvas torrenciais, queimadas intensas, secas agrícolas, ciclones tropicais intensos, bem como na redução do gelo ártico, da cobertura de neve e do permafrost, e que em relação à média entre 1850 e 1900, o aumento da temperatura global em 2081-2100 muito provavelmente será de 1°C a 1,8°C no melhor dos cenários e de 3,3°C a 5,7°C no pior cenário.

Nesse cenário preocupante e complexo, a boa notícia é que nos dois melhores cenários, onde a humanidade se compromete com uma profunda redução nas emissões de  gases de efeito estufa, o aquecimento global superior a 2°C é improvável. Para tanto a  mensagem do relatório é clara: para se evitar os piores cenários – ou que se atinja o “ponto de não retorno” do sistema climático planetário – a humanidade precisa endereçar de forma rápida e efetiva questões como o aumento da eficiência energética, suspensão do subsídios aos combustíveis fósseis, fechamento das termelétricas movidas a carvão e ampliar a escala de implementação das soluções climáticas naturais (SCN), como os programas de redução do desmatamento e de aceleração da restauração, desenvolvidos pela BRCarbon, por exemplo.

Dentre as estratégias de combate às mudanças climáticas, as SCN se destacam por atuarem em duas frentes distintas, pois além de mitigar o aquecimento global pela retenção de carbono na biomassa florestal, contribuem também com a adaptação e resiliência de ecossistemas e comunidades frente aos extremos climáticos, que já batem à porta.

 

Autor: Diego Serrano, Direto Técnico da BRCarbon.

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